31/07/2009

Jaqueta, moeda e chulé

Esta aconteceu numa região, que compreende como principais localidades (bairros e loteamentos): Rio Grande, Loteamento Laranjeiras e Barra do Aririú.

Foi uma semana que fiquei somente no Loteamento Laranjeiras, onde poucas são as ruas calçadas ou asfaltadas e ainda, para piorar, a chuva não deu trégua em dias anteriores deixando o local quase intransitável.

O mandado era de audiência de três pessoas, todas moradoras daquele local.

Ocorre que em certos lugares, as pessoas não se conhecem pelo nome, mas pelo apelido, o que foi o caso.

Peguei o mapa e fiz o itinerário, roteiro das ruas por ordem de chegada onde eu passaria, para minha felicidade a primeira pessoa da lista estava em casa, uma moça baixinha, cabelos crespos e pretos que tinha o apelido de “JAQUETA”.

Perguntei o porquê do apelido, e por incrível que pareça é porque ela brigou (de socos e pontapés) com uma vizinha que comprou uma jaqueta igual a que ela tinha. Que nervosa, não?!

Expliquei sobre o mandado – morrendo de medo que ela ou alguém da casa dela tivesse uma blusa de lã igual à minha - dizendo que era necessário que eu achasse as outras quatro pessoas (além dela), pois eram testemunhas de defesa do réu.

Com isso, já ganhei a confiança da moça, pois descobri assim, que o réu era “amigado” dela (como ela me explicou, não eram “casados no papel” mas “amigados”, ou seja, só conviviam juntos).

Ela olhou atentamente no mandado e foi indicando na ordem:

- “Este aqui é o MOEDA, mora na rua de trás numa casa de madeira azul” – e foi comigo à pé, porque a estrada estava coberta de lama, íamos pelos cantos das calçadas de grama.

Achamos o dito em casa, dormindo. Ele apareceu, grande, gordo e meio desengonçado com as calças bem baixas. Expliquei a necessidade da presença dele, que assinou a contrafé e voltou para dentro de casa, morto de sono e mal ouviu o que expliquei.

E ela, mais do que rapidamente, disse:

- “Viu porque o apelido dele é moeda?"

Eu, claro, me fiz de desentendido:

- “Não, porque?”

E ela, bem alto:

- “VIU O 'COFRINHO' DELE? É sempre assim, com as calças caídas sempre aparecendo...”

Rimos uns dez minutos sem parar!

Depois do longo momento de descontração, fomos para a segunda pessoa (terceira contando com ela) e mais um apelido veio à tona: CHULÉ.

Conforme me explicou, o apelido veio porque o cara usava direto sempre as mesmas meias, mas faleceu há alguns anos. Assim, ela me disse - com nítida sensação de alívio:

- “É uma pena não encontrar todos para a audiência, mas pelo menos não precisamos aguentar o chulé do Chulé.”

É, também acho. Dos males, o menor.

24/07/2009

As três mosqueteiras

As crianças sempre presentes no meu trabalho - o que eu adoro - porque são autênticas, divertidas, mais do que inteligentes e principalmente pois noto uma grande carência de atenção por parte delas.

No começo do mês fui numa área do bairro onde eu atuo, que ninguém sabe nada, ninguém viu ninguém e ninguém se conhece. Lei do Silêncio. Era um caso complicado, onde a juíza havia pedido urgência no cumprimento daquele mandado.

É um bairro que, se chega alguém diferente, que não é morador (porque todos se conhecem!), todos desconfiam, inclusive as crianças.

Cheguei na residência e de dentro do carro, chamei um menino que veio em direção à porta do carro. Eu abaixei o vidro da janela doi carro e perguntei:

- "Ei moço! Conhece o Rodrigo?

Ele, todo desconfiado foi chegando perto do carro, fez uma "análise visual" do que tinha dentro e percebi que ele fixou os olhos numas balas que eu tinha no suporte ao lado do câmbio. Aliás, as balas também são excelentes ferramentas para conseguir informações das crianças...

Quando ele percebeu que eu tinha notado os olhares dele nas balas, mais do que rapidamente me disse:

- "Eu te falo se conheço o Rodrigo se me der uma bala". (garoto esperto!).

E eu, sem hesitar, disse:

- "Não, vamos fazer assim: se você o chamar, te dou TODAS as balas".

Saiu aos gritos em direção à casa: "PAIEEEEEEEEEÊ, TEM UM MOÇO AQUI QUERENDO FALAR CONTIGO!"

Ganhou todas!


A última foi no bairro Ponte de Imaruim (é divisa com São José). Neste bairro possui duas grandes avenidas principais e uma delas possui várias servidões que começam na avenida principal e finalizam na praia, imprópria para banho.

Coincidentemente fui na "Servidão das Crianças", realmente é este o nome e inclusive consta no mapa da cidade. O porquê do nome: havia uma mulher que tinha uma casa grande que ficava com as crianças que não iam para a escola, enquanto os pais saíam para pescar. Pelo menos foi o que disse uma senhora na primeira vez que fui lá, dizendo que foi uma das primeiras moradoras do local.

Pois bem, fui numa tarde de sol, muito calor. O problema é que na servidão tem várias ramificações e assim por diante, se formando um verdadeiro labirinto. E o pior: a numeração das casas é mais do que aleatória e colocam o número que acham mais conveniente. Por exemplo, a casa de número 33 é de uma senhora religiosa que colocou por conta própria o número da casa por conta da idade de Cristo. Muito bem.

Era um mandado com três pessoas na mesma servidão, com números de residências diferentes. Na servidão principal obviamente não encontrei nenhuma das três casas pelos números, mas encontrei três meninas brincando de amarelinha (uma brincadeira saudável que hoje em dia não se vê mais).

Chegar sorrindo e brincando com as crianças, muitas vezes, parece que as crianças ganham um presente, face a carência que possuem, somente no brilho de olhar de cada uma.

Perguntei se elas poderiam me ajudar para encontrar algumas pessoas e me encheram de perguntas: como era meu nome, onde eu morava, sobre o que eu fazia. Acharam legal o trabalho porque "podia ficar passeando".

Todas com nove anos de idade, se apresentaram, uma por vez:

- "Eu sou a Nicole. Tenho nove anos e moro naquela casa feinha ali, mas é 'bem boa' por dentro - apontando para uma casa de madeira manchada pela umidade - morri de pena.

- "Eu sou a Amanda e já estou na segunda série e moro com minha avó.

- "Eu sou a Jussara e também tenho nove anos, mas é Jussara com dois "s", porque uma vez, minha mãe me levou no SUS e a moça lá colocou com "ç" e eu não gosto daquela cobrinha debaixo do c" - bem esperta esta!

Bom, isso que eu nem tinha perguntando o nome. Apresentaram-se por conta própria. Se fosse assim, teriam me contado toda a infância de cada uma. Isso é mais uma prova da carência de atenção que as crianças dos bairros mais carentes possuem e isso me chama muito a atenção.

Seguimos então pelo "labirinto", as três correndo na frente e eu atrás, uma indicando ali, outra indicando aqui até que depois de quase quarenta minutos, conseguimos achar as três pessoas que eu precisava intimar.

Na volta até o carro, fomos conversando e a Nicole me disse: "Moço, sempre que quiser vir aqui, vem de tarde, porque de manhã a gente tem aula. E já anota nosso nome e onde a gente mora pra chamar quando precisar de ajuda, porque a gente conhece todo mundo."

Eu achei muito legal (as balas do carro me salvaram)

E disse para elas: "Então fechado! Sempre que eu quiser ajuda por aqui, vou chamar as Meninas Super Poderosas!

- E a Amanda disse:

Não, não... Meninas Super Poderosas é coisa de criança, preferimos "As três mosqueteiras"!

Imagina minha cara, achando que estava arrasando em compará-las com as Meninas Super Poderosas.

E voltaram as três de mãos dadas, saltitantes, com a sensação de dever cumprido.

21/07/2009

Cigarrinho do capeta...

Para quem não sabe, o Oficial de Justiça também cumpre mandados de internação. São aqueles casos onde alguém da família é dependente de tóxico ou álcool e a própria família solicita ao Judiciário a internação da pessoa, muitas vezes, à força - o que é bem triste.

Felizmente, apesar da situação dramática aconteceu algo digamos, divertido.

Era um mandado de internação de um homem, aparentando uns 40 anos, onde era viciado em drogas, especificamente em maconha. Os cotidiano dele é bem diferente das pessoas normais: ficava acordado da meia-noite às 4h da madrugada - horário em que ele usava drogas - e no
restante do dia, dormia.

Sua mãe me disse que ligaria, me informando o horário em que ele estivesse dormindo, para que eu pudesse chegar com a viatura policial, mesmo porque não se usa o carro do Oficial de Justiça e também porque, na maioria das vezes, a pessoa resiste à internação.

Seis horas da manhã ela me ligou. Eu já estava na cidade porque no dia anterior ela tinha me explicado a diferença de horários do seu filho.


Ele lembrava o Krusty, aquele palhaço dos Simpsons (foto ao lado) pois era calvo na parte de cima da cabeça e cabelos grandes nos lados.

Pode ser pecado, mas que deu vontade de rir, deu sim!


Com o uso de drogas, tinha os olhos vermelhos e saltados, sem contar que a pele estava mais do que pálida.

Eu estava acompanhado de três policiais, que vieram numa pick-up da polícia, aquelas que possuem grades (como uma gaiola) na parte de trás para quem está detido. Foi tranquilo (agora sem trema) porque ele não reagiu. Simplesmente se levantou - e com a roupa que estava dormindo - nos acompanhou até a viatura.

O policial dirigindo, outro do lado do caroneiro, eu no banco de trás acompanhado do terceiro policial. O internado, na gaiola falando sozinho. De repente, ele me disse:

"Ei, moço! Vai um cigarrinho do capeta aí?" - ele nem tinha droga alguma, mas estava delirando.

Chegamos na clínica que fica na cidade vizinha - que é mais psiquiátrica do que de dependentes químicos - e ficamos todos numa sala esperando pela chegada do médico responsável. Silêncio total e, mais uma vez, ele me disse:

- "Eu sei que você vai me tirar daqui. Na verdade, não sou drogado, sou médium. Seu pai já morreu, né?

Respondi: - "Sim, já faz quase cinco anos."

- "Eu sei, estou vendo seu pai do seu lado, ele me disse que você vai me tirar daqui pra usar um cigarrinho do capeta junto comigo!"

Silêncio de novo.

Olhei para os policiais que estavam segurando para não rir. E para quebrar o silêncio perguntei:

- "Está mesmo vendo meu pai?"

- "Estou sim, do seu lado. Bem alto, olhos claros e bem forte".

É, realmente o "cigarrinho do capeta" faz bastante efeito, mesmo porque meu pai era baixinho, moreno e de olhos pretos. E certamente, se ele estivesse ali, daria boas risadas também...

17/07/2009

Chuva: a cidade de cabeça pra baixo!

Para um Oficial de Justiça, um dia de chuva corresponde à dois ou três dias de atraso. Principamente em ruas onde não são asfaltadas onde as enormes poças d'água escondem verdadeiras crateras.

Eu, particularmente, não confio nessas poças, mesmo porque, num dos primeiros posts, coloquei a foto de um buraquinho que "cruzou o meu caminho" (rimou!).

Para piorar, é de praxe: eu lavo o carro no capricho ao final do dia. Amanhece com a maior chuva. Lei de "Smurf" como já ouvi numa das pérolas do meu dia-a-dia.


A foto ao lado é o exemplo do dia que meu carro, lavado, encerado no capricho, quis enfrentar.

Eu não deixei, claro.

O local onde eu iria, é a rua sem saída (servidão) ao lado do portão branco. Mas nem pensar!

O mandado está pendente de cumprimento, e sempre passo por ali para ver se a água baixou ou se pelo menos secou, para então, cumprí-lo.

Mas como para tudo na nossa vida tem um ponto positivo, num dia de chuva andamos mais devagar, prestamos mais atenção no trânsito e nos lugares onde passamos - principalmente nas motos que passam em alta velocidade na lama, "lavando" o seu carro e, muitas vezes seu rosto, se o vidro estiver aberto - e nessas idas com mais cautela, tanto para não sujar (muito) o carro mas por conta do trânsito caótico que se forma, verifiquei uma situação bacana.

Tratava-se de uma rua de apenas de duas quadras pequenas, sem movimento algum com uma placa alertando da presença de um radar que ali existia.

Seria normal, mas se a rua não fosse uma pequena estrada de chão, ensopada pela lama e água da chuva, e a placa fosse escrita à mão.



Passei pela placa - não acreditei - engratei a marcha ré e fui obrigado à fotografar esta, porque, contando, ninguém acredita.

Esperem!

Vem a melhor de todas (que nem vou comentar):



14/07/2009

Pontos de referência

O trabalho de Oficial de Justiça me fascina também pelo fato de ser um pouco investigativo.


A começar quando recebemos o mandado. Nele contém o endereço onde na maioria das vezes consultamos um mapa da cidade, ponto de referência e às vezes, telefone para contato, sendo que a maioria, quando ligaos, ouvimos a gravação: “número inválido”.


Mas nem todos os mandados são assim, com todas as informações necessárias. Alguns, são tão incompletos que, no começo, eu achava que fosse brincadeira ou erro, falta de digitação de parte do endereço por parte do cartório.


Já recebi alguns como:


"Avenida Aniceto Zacchi, Palhoça, SC" - Detalhe: A avenida é gigante, começa com o número 42 e termina com o número 989. Imagina, fácil, fácil...


"Estrada geral da Pinheira, depois da ponte" - Ah bom! Depois da ponte, claro. Qual ponte na praia da Pinheira? São várias e a praia é de grande extensão!


"Última casa da rua, em cima do muro" - Isso mesmo, em cima do muro. Eu não seria tão azarado em encontrar várias casas em cima do muro, por isso achei que, apesar do absurdo, seria mais fácil! Mas na verdade, o muro de divisa dos terrenos foi aproveitado para fazer a parede da casa numa rua sem saída. Custava escrever: "última casa encostada no muro do final de rua sem saída", ou algo assim?


"Casa amarela na última quadra com duas janelas na frente" - Na última quadra, TODAS tinham duas janelas na frente e cor amarela, três. A pessoa que eu procurava morava na casa de cor laranja. (Quem indicou o ponto de referência era daltônico, aposto!).



A melhor de todas foi: “casa amarelo-ovo com janela pink”.

Amarelo eu sei que era. Ovo, não. Amarelo-ovo é mais escuro, cor da gema, certo?


Mas pink, de certeza! Não tinha como não encontrar.

10/07/2009

Amendoim com café sensual

Não são somente as crianças que fazem com que aconteçam situações hilárias ou engraçadas no meu cotidiano.

As duas mais diferentes aconteceram com duas senhoras.

A primeira tinha setenta e quatro anos. Fui levar uma intimação da sentença do processo onde o filho dela era réu, como ele não estava, ficamos conversando na frente do portão e ela começou a me contar toda a história que envolveu o filho dela.

Isso é bem comum, por isso que eu digo que Oficial de Justiça tem um pouco de Psicólogo, fica sabendo de tudo o que aconteceu sem ter lido uma linha do processo porque as pessoas encontram uma maneira de desabafar. E eu gosto disso!

Continuando... ela chegou mastigando pé-de-moleque (época de Festa Junina, claro!), mas creio que ela tenha esquecido de engolir para falar comigo.

Eu não costumo falar com as pessoas usando óculos escuros - não acho legal falar sem olhar nos olhos - mas naquele dia foi inevitável.

Cada palavra que ela falava, um pedaço de amendoim voava em mim. Eu não sabia se sacudia minha blusa de lã, se me limpava ou se saía correndo. Por sorte (ou azar) ela se engasgou e entrou correndo para dentro de casa para tomar água.

Quando voltou, perguntou:

- "Quer um pé-de-moleque para levar para o trabalho?"

E eu, discretamente disse:

- "Não, obrigado, não gosto muito."

Mentira. Eu adoro. Mas não sei o porquê, fiquei meio enjoado.


A outra situação foi na casa de uma senhora de oitenta e dois anos. Uma mistura de Dercy Gonçalves com Elke Maravilha: maquiagem demais, roupas coloridas demais, colares demais, tudo demais. Mas muito querida.

A questão era que ela tinha solicitado a guarda da neta, mas tinha desistido. A intimação era a decisão do Juiz aceitando a desistência dela.

Para piorar minha situação, ela tinha problemas auditivos.

Ela queria que eu lesse todo o documento antes de assinar. Tudo tinha que ser aos berros e meu medo era de quem passasse pela rua, achasse que eu estaria assaltando aquela senhora, sei lá...

Depois de quase quarenta minutos para ler a decisão do Juiz ela me interrompeu no meio (de certo, nem estava escutando o que eu estava lendo) e disse:

- Quer tomar um café sensual?

CAFÉ SENSUAL? Para a situação não ficasse pior e para que eu não tivesse que perguntar aos berros o que ela quis dizer com “café sensual”, me fiz de desentendido e disse:

- Não obrigado, mas assine na primeira via e eu deixo a segunda! - Dei a caneta pra ela, que assinou, agradeci (aos berros) e fui embora.

E ela - toda feliz - na janela:

- “Apareça para um café, viu?”

Eu não!

07/07/2009

Busca e apreensão

Cumprimos todos os tipos de mandados, inclusive Busca e Apreensão que é um monstro-de-sete-cabeças para muita gente. Já cumpri aproximadamente uns seis mandados deste tipo.

Não é fácil como os outros, onde vou na casa do destinatário e entrego o documento recebendo a contrafé assinada.

Existe um procedimento particular: é divido em duas partes: a busca (pegar o bem) e após, a citação (dar ciência para o devedor e consequentemente, quinze dias para sua defesa).

Estando o bem no local, não interessa se o proprietário está ou não. O bem é levado do mesmo jeito, e com ordem judicial, podemos arrombar a porta, chamar chaveiro, e por aí vai... após a busca é que o devedor é citado.

E foi um caso assim, onde o devedor não estava (foi o meu primeiro!) onde houve uma situação ímpar e naquela ocasião, fui acompanhar um outro Oficial de Justiça, com muito mais experiência.

A busca era de uma moto. Linda, amarela, nova em folha! Chegamos lá, a casa fechada, um muro de concreto enorme e um portão de ferro. Subimos pelo muro da vizinha e avistamos a moto no fundo do quintal. Neste caso, havia ordem judicial para "força arrombamento" e "força policial", sendo que o local era perigoso e o devedor também.

A polícia, o guincho, todos lá. Além disso, a presença nada agradável de um cachorro da raça Pitt Bull, mais do que raivoso. Babava de tanta raiva pelo barulho que estávamos fazendo para tentar abrir (arrombar) o portão. Claro que a polícia não poderia atirar no cachorro, e estávamos pensando em algo para distraí-lo.

Para nossa surpresa, um menino que morava naquela rua nos chamou e disse:

"Ei... eu sei fazer o cachorro parar de latir e ficar bem quietinho!"

Obviamente duvidamos disso, porque o cachorro era enorme e não tinha cara de bons amigos.

E lá foi ele, subiu no muro, acendeu um rojão enorme e jogou perto do cachorro que sem saber do que se tratava, foi chegando perto. Quando ia se aproximar, um estouro enorme ecoou dentro do terreno. Bingo! O cachorro virou um gatinho: correu para o fundo do terreno, entrou na casinha e ficou.

Entramos, com muito cuidado, esperando um possível ataque do cão, mas nem saiu de lá.

Segundo o menino, ele sempre faz isso quando a bola dele cai naquele terreno e descobriu que o cachorro fica zonzo e com medo.

Conseguimos! Arrombamos o portão, carregamos a moto até o guincho e a busca foi efetuada. O menino, claro, ganhou um chocolate. Uma mão lava a outra e as duas batem palmas!

Contos em fotos:

Foto de um dos guinchos que nos ajuda a buscar os bens apreendidos:



Para quem não sabe, o bem não pode sair rodando normalmente, tem que ir no guincho até um estacionamento terceirizado onde só se guardam veículos apreendidos até a negociação com o devedor.

Não havendo negociação, vai para leilão. Este intervalo de tempo entre a negociação e o leilão, pode levar muito tempo. Por isso que nos leilões, alguns veículos estão bem destruídos.

A foto abaixo é uma parte de um dos estacionamentos de veículos apreendidos:

03/07/2009

Tantos planos...

Uma das situações mais complicadas ou esquisitas que convivi foi para o cumprimento de uma citação numa separação, onde o marido era quem queria.

Li a petição inicial dele onde já discriminava os bens que queria dividir, os motivos da separação, inclusive relatando em outras (e pobres) palavras que ele queria ficar com outra pessoa. Eu, sinceramente, nunca vi uma petição inicial assim, tão informal, "curta e grossa".

A rua era extensa e para piorar, não tinha o número da casa no mandado. Pergunta aqui, pergunta ali, me disseram que a moça morava numa casa amarela quase no final da rua.

Na casa amarela, perguntei para um menino de aproximadamente uns dez anos que disse:

- "Ela está lá no final da rua, num galpão grande que tem lá".

Chegando no tal galpão, verifiquei que tinham vários carros parados em volta e pairava um silêncio anormal. Pasmem: ela estava no velório dele. Bom, obviamente não cumpri o mandado - nem pode - mas descobri que ele foi atropelado na noite anterior.

A moça estava até inchada de tanto chorar, mal respirava e dizia:

- "Um homem tão bom para mim, tínhamos tantos planos para o nosso futuro juntos."

Sinceramente, minha vontade era de chegar e dizer:

"Ei, pára de chorar! Olha o que ele queria fazer contigo! Separar de ti, dividir as coisas e ficar com outra! Dá na cara dele!"

Que planos que nada!



Contos em fotos:



Foto do meu fiel companheiro de trabalho, no seu momento relax: