Por conta do meu aniversário e da idéia do almoço beneficente no próximo domingo, recebi várias doações de amigos. Roupas, cobertores, lençóis e alimentos. Deixo no porta-malas do carro e na medida em que vou na comunidade Frei Damião - dependendo da família e da situação - entrego as doações.
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E foi isso que aconteceu hoje. Mais uma família desconhecida que recebeu alguma ajuda. Porém, esta - sinceramente - foi a mais especial de todas as experiências que tive até hoje.
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Conheci a Sra. Marlene, que mora com as duas filhas e três netos. Ela tem - aparentemente - uns 60 anos, trabalha como faxineira mas está parada por problemas de coluna. Cuida dos netos enquanto suas duas filhas (uma é mãe das três crianças, um menino e duas meninas) são empregadas domésticas em casas de famílias em Florianópolis. Contou que logo estarão de mudando para a cidade de Xanxerê onde trabalharão num sítio, sendo que - segundo ela - terão uma vida bem melhor do que a atual.
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A casa, além de ser emprestada, é uma das mais pobres que já vi. Forrada de vegetação, o que a torna mais úmida das demais. Sem condições.
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Ela mora no final da favela, quase divisa com a cidade de São José e eu precisava encontrar um fulano para uma audiência de emergência. Segundo ela, não o conhecia, apesar de que a maioria das pessoas conhecem mas não falam, porque geralmente prevalece a Lei do Silêncio.
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Já passava das 11h30min e ela me disse:
- "Espera um pouco que estou esperando minha vizinha que deve estar chegando. Quero ver se ela tem farinha pra eu fazer pirão no almoço pras crianças. Quem sabe ela conhece o moço..."
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No instante em que ela me falou sobre a farinha, fiquei imaginando se aquele seria o único almoço dela e das crianças. Fiquei constrangido em perguntar, mas para puxar assunto eu disse:
- "Pirão é a comida que eu mais gosto. Como a senhora vai fazer?"
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E ela respondeu:
- "Fazendo oras... pirão d'água. Água quente e farinha. Fica muito bom porque esquenta mesmo porque não tem outra coisa pra colocar... ovo, linguiça, nada..."
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Bingo! Descobri que realmente era somente o pirão que iam almoçar. Eu disse a ela que eu tinha alguns alimentos e roupas no carro que eu trouxe caso alguém precisasse e perguntei se ela se importaria de eu dar pra ela.
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Sorridente, nem precisou responder.
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Foi comigo no carro e quando abri o porta-malas, peguei a sacola que continha um pacote de bolacha de chocolate, um pacote de arroz, um de café e dois de feijão. Quando ela abriu a sacola disse, na maior felicidade:
- "Olha! Feijão! Faz tempo que não como feijão..."
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Mais do que rapidamente ela me deu um abraço demorado e apertado, como forma de agradecimento sem dizer nada como se tivesse ganhado o melhor presente do mundo. Eu fiquei totalmente sem reação, imaginando que algo para alguns parece ser insignificante e para outros, vale demais.
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Ao mesmo tempo, senti que aquele abraço foi um dos mais puros e sinceros que eu já recebi. O abraço dela valeu muito mais pra mim do que os donativos que ela recebeu.
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Esqueci até da audiência...
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Abaixo, um vídeo sobre o valor do abraço onde, infelizmente perdemos este tão belo e simples hábito, mas quem sabe, é falta de treino. Vale a pena vê-lo.
Hoje eu aprendi com uma senhora desconhecida, simples e de vida difícil, que o abraço e o contato humano nos faz melhorar como pessoa e além de tudo, renova nossas energias.
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Abrace muito, abrace sempre, abrace! Não custa nada, não dói e faz muito bem! E eu sou a prova disso...
UM GRANDE ABRAÇO À TODOS! ATÉ DOMINGO!