27/08/2010

Futebol sem bola

Esta semana foi de grandes novidades. Conheci novas pessoas e revi antigos amigos e por falar neles, meu amigo Cauã está de aniversário no próximo domingo, completando nove anos.
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Para quem não sabe, é aquele menino do Frei Damião que "trocou" figurinhas comigo para comprar o presente de Dia das Mães à sua mãe e foi, juntamente com sua família, almoçar com a minha naquele domingo tão especial.
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Conversando com ele, queria "de presente" visitar o shopping da cidade, Via Catarina e assim fomos. Seus pais, Jorge e Juliana (que aniversariou ontem, quinta-feira) também foram. Conversamos bastante sobre minha nova região, sobre o Cauã e pela grande amizade que nasceu entre nós. Passeamos pelas lojas, viu o cinema - onde ficou a promessa de irmos no próximo final de semana - ficou fascinado com o elevador panorâmico e com as escadas rolantes.
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Momentos simples para mim, porém, bem marcantes para ele. Esse realmente foi o melhor presente.
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Outra novidade nesta semana foi quando fui tomar café na Padaria Mãe Maria - a minha favorita - desde que fazia a região do Frei Damião. Enquanto estava conversando com a proprietária (e amiga!), entrou um senhor chamado Jorge e conversou com ela sobre a necessidade de ajuda para um grupo de crianças que faz aula de futebol no bairro.
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Ela o explicou sobre meu trabalho como Oficial de Justiça e das atividades beneficentes e percebi que, certamente, haveria um porquê de eu estar ali naquele momento. Nada é por acaso.
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O nome dele é Jorge Coelho, tem 65 anos, foi um dos primeiros moradores do bairro e ensina futebol para 40 crianças, sendo 15 meninas. Ele faz isso desde 1995, sem ajuda alguma do poder público. Nas segundas (para as meninas), terças e quintas (para os meninos) das 18h30min às 19h45min. Aliás, que não estuda, não joga.
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Ficamos conversando e ele me convidou para visitar as crianças no campo, mas atualmente não estavam treinando porque não tinham bola. Estava esperando a resposta de um comerciante da região que ficou de conseguir uma pra ele mas como essa resposta já estava sendo esperada fazia uma semana, me prontifiquei a levar uma bola hoje. E assim foi feito, às 18h30min eu estava lá. Bola oficial, nova e foi inaugurada. A maior festa. A criançada feliz da vida e empolgada.
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As crianças usam coletes doados por uma empresa que diferem os times. Já estão surrados, mais do que usados e por conta disso, juntamente com o Sr. Jorge, tive a idéia de, assim como a campanha do material escolar, da Páscoa, do inverno, fazer uma campanha para conseguir camisetas para as crianças da "escolinha de futebol Monte Castelo".
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Portanto, quem quiser ajudar, com indicações de empresas para patrocínio, malharias, serigrafias ou algo do tipo, podem entrar em contato comigo. Independente disso, farei orçamentos - assim como fiz com os materiais escolares - porque tem os que ajudam financeiramente e sabem do resultado positivo que todas essas campanhas possuem.
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O ideal é que, o primeiro jogo com as camisetas novas, seja prestigiado por aqueles que ajudaram, para que as crianças se sintam valorizadas e empolgadas com um futuro brilhante pela frente.
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E uma coisa é sempre certa: um pequeno detalhe pode fazer sempre uma grande diferença.

12/08/2010

Pequenos grandes desejos

Comecei a nova região com muito bom-humor - e isso é um bom sinal! Não só por ser um lugar tranquilo, mas porque o primeiro mandado que recebi constava - equivocadamente - a cidade de Palhoça escrita como "Palhaço". E pior, não foi erro de digitação, porque a expressão errônea se repetia várias vezes no documento.


O trabalho na novo local está tranquilo. Como todo início começam as descobertas: caminhos mais curtos, ruas ou servidões que não aparecem nos mapas da cidade, pontos de referência e tudo o que possa facilitar o trabalho de agora em diante.
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Como fiquei oito meses na região da comunidade Frei Damião, confesso que estranhei um pouco, não pelas melhores condições de trânsito, facilidade de encontrar a maioria das ruas com casas numeradas; mas por não ter tanto contato com as pessoas como eu possuía no antigo zoneamento.
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É uma região bonita, um pouco conturbada por conta da duplicação da BR 101, mas assim como a maioria dos moradores que ali residem, espero que tudo logo se ajeite. A parte que eu mais gosto é a chamada Enseada do Brito, próximo ao Morro dos Cavalos, onde tive o privilégio de fazer belas fotos:
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Desde que comecei o trabalho como Oficial de Justiça encontrei nas várias regiões, pessoas cujas vidas surpreenderam-me, enobreceram-me, fizeram-me rir e chorar. E já nessa nova localidade, conheci uma senhora muito especial.

Seu nome é Rosária, oitenta anos, que me atendeu numa educação inexplicável. Sua casa é bem simples numa localidade denominada Pontal (um dos locais da região que atualmente faço), estava na janela da casa, vendo a movimentação da rua. Parei o carro para pedir informações, me orientou sobre quem eu procurava e falou toda empolgada:

- "Eu te conheço! Você é o menino do jornal, não é? Eu sei que é, eu vi!"

Depois que eu confirmei, saiu de dentro de casa e veio para a porta, toda contente. Pediu que eu sentasse para conversar com ela, porque "passa muito tempo sozinha e depois que os filhos casaram, quase não aparecem por lá". E assim fiz.

Ela contou que veio de Lages/SC, que trabalhava na roça desde cinco anos de idade e que mora em Palhaç..., ops, Palhoça, há quase dois anos. Falou que recebe a aposentadoria do marido, que recebe ajuda da vizinhança e dos filhos, contou sobre os bailes que ia com seu falecido esposo, da sua casa cheia de visitas e viajamos no tempo ouvindo as histórias dela. Com a empolgação, perguntei o que ela realmente gostaria de fazer. Mais do que rapidamente, respondeu:

- "Tomar chimarrão! Faz tempo que não tomo chimarrão. Tenho a cuia e a bomba, mas não dá pra comprar a erva"...

Naquele instante lembrei dos pequenos grandes desejos do pessoal do Frei Damião que conheci. Coisas tão pequenas e tão insignificantes para muitos e importantes para outras. Disse que qualquer hora eu passaria para tomar chimarrão com ela (eu não gosto muito).

Na hora de eu ir embora, ela me deu um abraço tão forte - em forma de agradecimento - que percebi o quão importante foi passarmos aqueles momentos juntos, pelo simples fato de ouvir suas antigas histórias.

Uma coisa é certa: as pessoas podem não lembrar exatamente o que você fez ou disse mas certamente sempre se lembrarão de como você as fez sentir.

Amanhã tem chimarrão!